O Jornal On Line O PORTA-VOZ surgiu para ser o espaço onde qualquer pessoa possa publicar seu texto, independentemente de ser escritor, jornalista ou poeta profissional. É o espaço dos famosos e dos anônimos. É o espaço de quem tem alguma coisa a dizer.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

TEREMOS ENFIM A TÃO ALMEJADA UNIDADE CRISTÃ?



Por Juracy Andrade


A proposta do papa Francisco em prol da união das igrejas Católica Romana e Ortodoxa Grega é mais uma das propostas renovadoras e recristianizadoras daquele que se apresenta aos cristãos e ao mundo, não como o Sumo Pontífice (título pagão emprestado do imperador romano), mas como o bispo de Roma (um título cristão bem singelo). Não se trata de uma novidade. O Papa Montini (Paulo 6º) e outros já haviam feito gestos ecumênicos em relação às igrejas ortodoxas Grega e Russa. A novidade é que o papa não partiu de imposições e rendições, mas deseja uma autêntica união, ou reunião, com base nos princípios comuns estabelecidos desde os primeiros séculos da Era Cristã, incluindo os que se contêm no Símbolo de Niceia: unidade, santidade, universalidade e apostolicidade (tradição apostólica). 

Isso obrigará as diversas igrejas que desejem a união, sejam ortodoxas, reformadas ou a de Roma, a muitas renúncias. Sabemos que, mesmo depois do chamado cisma do século 10º, os papas continuaram realizando concílios e proclamando unilateralmente dogmas de fé, o que foi tornando cada vez mais difícil o reencontro daquela unidade tão recomendada por Jesus Cristo. Embora o chamassem de ecumênicos, querendo significar serem de toda a Igreja de Cristo. Também o outro lado teve seus concílios. Houve de fato um concílio convocado por Roma que muito se aproximou do ecumenismo cristão, sendo inclusive convidados para ele bispos não católicos como ouvintes (o que houve também no Vaticano 1º; só que ninguém compareceu). Foi o Vaticano 2º, de 1962 a 1964, praticamente ignorado pelos papas que vieram depois, com exceção agora de Francisco que nele se apoia para muitas de suas iniciativas.

Houve também, contudo, concílios da desunião, como o de Trento (a chamada Contrarreforma, no século 16) e o Vaticano 1º, no século 19. Convocado por Pio 9º em 1868, seu conteúdo permaneceu envolto em mistério até que a revista dos jesuítas Civiltà Cattolica anunciou o grande objetivo: a proclamação como dogma de fé da infalibilidade do papa No ano seguinte, iniciava-se o concílio, que teve de ser interrompido em julho do ano seguinte devido à eclosão de mais uma guerra entre a França e a Alemanha, além da invasão de Roma pelos que lutavam pela unificação da Itália, incluindo a tomada dos Estados pontifícios. Roma foi tomada pelos seguidores de Mazzini e Garibaldi em julho de 1970. A proclamação da infalibilidade papal por Pio 9º veio a despeito da não unanimidade de opiniões entre os padres conciliares. Até hoje é mal digerida por católicos e, mais ainda, pelos protestantes e ortodoxos.

Vamos torcer cristãmente para que agora todas as igrejas realmente herdeiras da mensagem de Cristo decidam atender ao apelo do nosso único Mestre, na véspera de sua morte, voltando à unidade perdida.


Juracy Andrade é jornalista com formação em filosofia e teologia

Nenhum comentário:

Postar um comentário